O poeta deixou suas moradias mágicas, abertas a visitação –uma em Santiago e duas no litoral chileno.
Pablo Neruda era um homem caseiro. Tanto que deixou três casas no Chile, todas elas com nomes poéticos, habitadas por recuerdos de uma vida (1904-1974) farta de amores, amigos e utopias. Em Santiago, há La Chascona (“a descabelada”, na língua indígena quíchua), morada que também foi seu refúgio secreto com Matilde, que viria a ser sua última mulher. Ela tinha cabelos ruivos e volumosos –daí o nome da casa com jardim florido, que hoje abriga um centro cultural. Localizada no pé do cerro (morro) San Cristóbal, conta-se que o local era longínquo e isolado, quando o poeta comprou o imóvel, no início dos anos 50.
Os vestígios do romance de Neruda e Matilde estão por todos os cômodos, como em um quadro do pintor mexicano Diego Rivera em que o perfil do poeta desponta em meio aos cabelos ruivos e volumosos da amante. Há também objetos curiosos, como um cavalinho de carrossel, que revelam o lado lúdico do poeta. A arquitetura da casa traduz a paixão de Neruda pelo mar, como na sala de jantar, em forma de navio, com teto baixo e janelas de escotilha. Neruda mandou pintar o muro ao lado dessa sala de azul, para ter uma impressão de mirar o horizonte enquanto olhava pela janela durante as refeições.
Perto da capital (120 km), em Valparaíso, fica La Sebastiana, um casarão de três andares, com vista privilegiada para o lar. “Um lugar para vivir y escribir tranquilo”, nas palavras do poeta. “Valpo” , como é chamada essa pequena cidade litorânea, faz par com Viña del Mar, o “Guarujá” dos chilenos. São como duas irmãs que nada têm a ver uma com a outra. Vinã é lotada de bares, baladas, e seu famoso casino, de 1930, o mais antigo do Chile. Valpo, a vizinha, encanta pelo casario antigo e um elevador que transporta os visitantes da parte baixa da cidade para a alta –onde fica La Sebastiana. Não à toa essa era a casa das festas e dos finais de ano do poeta, perto dos barcos que ele tanto amava, com amplas janelas para ver os fogos de artifício. Como souvenir, além dos livros, na lojinha-café, dá para comprar cartões-postais, camisetas e pôsteres lindos com frases famosas como: “Si nada nos salva de la muerte, al menos que el amor nos salve de la vida”.
Há, por fim, a casa Isla Negra, na praia homônima (96 km de Santiago), que dizem ser a mais bonita (a única que não visitei). Fica para uma próxima, porque é sempre bom ter, no mesmo destino, algo novo a descobrir.
Para visitar as casas de Pablo Neruda, consulte o site da Fundação Neruda:
http://www.fundacionneruda.org/en
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